Assistindo o programa, Cidades e Soluçoes, da Globo News, sobre a rede de solidariedade que se criou após a tragédia na serra do Rio, me pus a pensar sobre uma pergunta feita pelo apresentador Eduardo Grillo sobre o que teria motivado o brasileiro a se mobilizar tão fortemente para realizar um trabalho voluntário de ajuda, uma vez que o trabalho voluntário não é uma tradição do povo brasileiro.
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Taxista Sao Gonçalo transportam donativos - Andre Redlich |
Parei então para pensar se concoradava com este ponto de vista. É verdade que se pensarmos em trabalho voluntário nos moldes da sociedade americana, onde ele é quase socialmente obrigatório, pelo menos em doação financeira, o Brasil não tem a mesma tradição. Meus superficiais conhecimentos de sociologia me fazem pensar em Max Weber, e seu clássico a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
Se há, como há, um “marketing do bem” que promove a solidariedade social,
devemos admitir que a solidariedade se tornou um valor de mercado e um
valor para o mercado. Logo, estamos diante de uma “solidariedade de
mercado”, uma solidariedade que não é bem um sentimento interior, mas uma
imagem de solidariedade. É uma imagem que ganha vida própria e que vai se
associar a outras imagens para valorizá-las - imagens de empresas, de marcas,
de governos, de governantes, de personalidades públicas. A solidariedade,
assim posta, como imagem autônoma e como imagem que reforça outras
imagens, existe no mercado não como um fim que se basta, um fim
desinteressado, mas como um argumento para o consumo [...]. Portanto, esse
tipo mercadológico de solidariedade, [...] “agrega valor” a produtos, marcas,
empresas, pessoas e governos. A solidariedade assim posta, mais que um
valor ético, é um fator de lucro [...] É necessariamente, uma solidariedade
exibicionista (BUCCI, 2004, p. 182).
devemos admitir que a solidariedade se tornou um valor de mercado e um
valor para o mercado. Logo, estamos diante de uma “solidariedade de
mercado”, uma solidariedade que não é bem um sentimento interior, mas uma
imagem de solidariedade. É uma imagem que ganha vida própria e que vai se
associar a outras imagens para valorizá-las - imagens de empresas, de marcas,
de governos, de governantes, de personalidades públicas. A solidariedade,
assim posta, como imagem autônoma e como imagem que reforça outras
imagens, existe no mercado não como um fim que se basta, um fim
desinteressado, mas como um argumento para o consumo [...]. Portanto, esse
tipo mercadológico de solidariedade, [...] “agrega valor” a produtos, marcas,
empresas, pessoas e governos. A solidariedade assim posta, mais que um
valor ético, é um fator de lucro [...] É necessariamente, uma solidariedade
exibicionista (BUCCI, 2004, p. 182).
Com relação a esse exibicionismo, pode-se tomar as considerações de Max
Weber a respeito do americanismo, da ética protestante e do espírito do capitalismo. O
autor comenta o caráter utilitarista das atitudes morais de Benjamin Franklin ao
defender que a honestidade, a laboriosidade ou a pontualidade são úteis porque
asseguram o crédito, razão pela qual são virtudes. Daí Weber depreende que a aparência
de honestidade bastaria quando fizesse o mesmo efeito que a honestidade em si, e isto
fica claro quando Franklin, em sua autobiografia, discute o valor da estrita manutenção
da aparência da modéstia e da depreciação assídua dos próprios méritos com a
finalidade de obter, posteriormente, reconhecimento geral. (WEBER, 1996, p. 32)
Weber a respeito do americanismo, da ética protestante e do espírito do capitalismo. O
autor comenta o caráter utilitarista das atitudes morais de Benjamin Franklin ao
defender que a honestidade, a laboriosidade ou a pontualidade são úteis porque
asseguram o crédito, razão pela qual são virtudes. Daí Weber depreende que a aparência
de honestidade bastaria quando fizesse o mesmo efeito que a honestidade em si, e isto
fica claro quando Franklin, em sua autobiografia, discute o valor da estrita manutenção
da aparência da modéstia e da depreciação assídua dos próprios méritos com a
finalidade de obter, posteriormente, reconhecimento geral. (WEBER, 1996, p. 32)
Leia a íntegra Mas este caso não se aplica ao que estamos assistindo em relação a tragédia da região serrana do Rio. Qualquer um, mesmo sem estar fisicamente lá, pode sentir que há um espírito real de solidariedade, e mais do que isso compaixão. E isto é uma tradição católica, no que há de melhor da sua filosofia. Podemos observar em outros eventos da América Católica, como no caso dos mineiros no Chile, que tanto emocionou o mundo. O brasileiro de modo geral, especialmente aqueles menos favorecidos, é solidário, sim. E age não pela razão, mas pela emoção. O que não existe no Brasil é uma rede social organizada neste sentido. No meu ponto de vista, por conta das nossas elites, que até muito pouco tempo se mostraram indiferentes, e pior, muitas vezes usaram tragédias como forma de preservação de poder e corrupção, como no caso da seca no nordeste. Isto, sim, nos difere de países protestantes, como os EUA. (Ou não, veja New Orleans).E também acho que é esta mentalidade que está se transformando no Brasil, processo que começou com iniciativas emblemáticas como foi o Fome Zero, do sociólogo Betinho de Souza, a Pastoral da Criança, da Dra Zilda Arns ou a Comunidade Solidária, de Ruth Cardoso. A partir daí, pelo que sei, o Brasil está se tornando uma referência mundial no que diz respeito ao terceiro setor, com ampla mobilização das elites no que se convencionou chamar Responsabilidade Social. | |
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Betinho |
Mas será que só isto explica o que se vê no Rio?
Acho que não. Me vem na cabeça um outro conceito: o de pertencimento
"A sensação de pertencimento significa que precisamos nos sentir como pertencentes a tal lugar e ao mesmo tempo sentir que esse tal lugar nos pertence, e que assim acreditamos que podemos interferir e, mais do que tudo, que vale a pena interferir na rotina e nos rumos desse tal lugar."
necessidade de crer e de se inserir em locais de pertencimento. Assim, à
medida que cresce o global, também se amplia o sentimento do local’. (...)
‘As razões desse paradoxo são múltiplas, entre as quais mencionemos a
seguinte: a globalização, sinônimo de mercantilização do mundo, introduz
localmente um tipo de incerteza e de vertigem na mente humana. Uma das
maneiras de reagir a isso consiste na busca da certeza de que somente a
proximidade pode garantir, até certo ponto, o sentimento de pertencer.”
(Zaoual, 2003: 21)
Desta forma vemos os Moto-clubes, os radio-amadores, a Cruz Vermelha, o Facebook, o condomínio. A sua rede. A que voce pertence, agindo, interferindo, ajudando, transformando a realidade.
É uma hipótese, e certamente é assunto para muita discussão.
Leia o trabalho de Joanildo A. Burity
IDENTIDADE E MÚLTIPLO PERTENCIMENTO NAS PRÁTICAS ASSOCIATIVAS LOCAIS
Ou será que quem tem razão há muito tempo é o Quiroga e a busca pelo bem comum já está escrita nas estrelas, é inevitável.
Data Estelar: Sol ingressa no signo de Aquário; Lua ainda é Cheia em Leão.
Todas as sociedades que se destacam e merecem ser chamadas de civilizadas respeitam o bem comum. Esse respeito é exemplo vivo demonstrado pelos governos e leis promulgadas, assim como também pela maneira criteriosa com que o dinheiro dos impostos é utilizado. Com o exemplo vindo de cima, as pessoas comuns praticam o mesmo. Evidentemente, haverá essas ou aquelas que continuarão com suas práticas egoístas, atentando contra o bem comum, mas serão de escasso número. Enquanto isso, nas sociedades em que os governos, leis e exemplo dos que ocupam cargos importantes não demonstram o respeito pelo bem comum, raras serão também as pessoas que se ocuparão com isso e a sociedade como um todo transpirará ar de atraso.
Agora, como a sociedade vai se comportar nos próximos meses, passado o impacto inicial é a grande questão. Como está o Morro do Bumba, você sabe?
Desta forma vemos os Moto-clubes, os radio-amadores, a Cruz Vermelha, o Facebook, o condomínio. A sua rede. A que voce pertence, agindo, interferindo, ajudando, transformando a realidade.
É uma hipótese, e certamente é assunto para muita discussão.
Leia o trabalho de Joanildo A. Burity
IDENTIDADE E MÚLTIPLO PERTENCIMENTO NAS PRÁTICAS ASSOCIATIVAS LOCAIS
Ou será que quem tem razão há muito tempo é o Quiroga e a busca pelo bem comum já está escrita nas estrelas, é inevitável.
21/01/2011
AR DE ATRASO. Data Estelar: Sol ingressa no signo de Aquário; Lua ainda é Cheia em Leão.
Todas as sociedades que se destacam e merecem ser chamadas de civilizadas respeitam o bem comum. Esse respeito é exemplo vivo demonstrado pelos governos e leis promulgadas, assim como também pela maneira criteriosa com que o dinheiro dos impostos é utilizado. Com o exemplo vindo de cima, as pessoas comuns praticam o mesmo. Evidentemente, haverá essas ou aquelas que continuarão com suas práticas egoístas, atentando contra o bem comum, mas serão de escasso número. Enquanto isso, nas sociedades em que os governos, leis e exemplo dos que ocupam cargos importantes não demonstram o respeito pelo bem comum, raras serão também as pessoas que se ocuparão com isso e a sociedade como um todo transpirará ar de atraso.
Agora, como a sociedade vai se comportar nos próximos meses, passado o impacto inicial é a grande questão. Como está o Morro do Bumba, você sabe?
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